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BANDAGED SOULS

Meu interesse pela representação fotográfica da insanidade começou quando conheci o trabalho de Raymond Depardon sobre asilos italianos (San Clemente). No Brasil, a forma como a sociedade lida com os doentes mentais ainda é um assunto de grande controvérsia. A luta para acabar com os manicômios começou nos anos 80 e acabou levando à aprovação de uma Lei Federal de 2001, que estabeleceu um prazo para o seu fechamento. Muitos desses asilos, no entanto, ainda existem. Meu contato inicial com esse universo deu-se através de uma série de visitas a uma instalação feminina no Rio de Janeiro, para um ensaio fotográfico publicado na revista Fotóptica. Ao conhecer aquelas mulheres, fiquei impressionado com a maneira como suas doenças mentais se manifestavam, uma forma que parecia menos violenta, mas em muitos aspectos muito mais intensa que no caso dos homens. Isso me fez evocar o poema de Emily Dickinson "The Soul has Bandaged Moments", no qual a poetisa revela o quão inquietante pode ser o "estar fora de controle", mostrando como a alma feminina flutua entre tempos de excitação incontrolável e de um estado de paralisia impotente, com uma falta de moderação que parece inevitável. No trabalho de Dickinson, a alma está "amarrada" porque está ferida. Meu ensaio fotográfico retrata essa lesão da alma entre as mulheres psicóticas no Brasil. As fotografias foram objeto de exposição no Solar Grandjean de Montigny, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1989.

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